[RESENHA] Avril Lavigne - Head Above Water


O fenômeno canadense de nome Avril Lavigne começou sua carreira em 2002 com o álbum de estreia "Let Go", sucesso absoluto nos anos 2000. A jovem canadense conseguiu grande destaque no cenário musical da época, não só por sua postura cheia de atitude e rebeldia, mas também por declarações polêmicas sobre outros artistas, como Britney Spears, Evanescence e My Chemical Romance.

Curiosamente, ao passar dos anos, ela foi se tornando cada vez mais "barbiesinha do pop/rock", quando cabelos e roupas coloridas, caveiras cor-de-rosa e poses caricatas um pouco mais sensuais foram incluídas em sua identidade visual. Para aqueles que a acompanhavam desde a era "Let Go" e a viram dar um salto de maturidade como compositora em "Under My Skin", vê-la num caminho "Girlfriend" e posteriormente "Hello Kitty" foi no mínimo muito estranho.

Ao invés de acompanhar seu público e próprio crescimento soando mais adulta com o tempo, Avril sempre foi um incógnita no mercado, justamente por apresentar o oposto: a cada lançamento, aparecia e soava mais "teen". Até quando tentava soar "crescida", suas letras pareciam escritas por uma adolescente que se esforça sofrivelmente pra mostrar que é "diferente das outras".

"Head Above Water" é enfim lançado depois de uma pausa de mais de 5 anos desde seu último trabalho de estúdio, e de passar por um  delicado tratamento da doença de Lyme. A divulgação do álbum prometia algo mais intimista e -finalmente- mais maduro, com lindas fotos que davam a impressão de leveza e profundidade, resultado de um período de total vulnerabilidade (física e emocional), nos deixando ainda mais curiosos.

Apesar de um instrumental com maior presença de pianos, strings e violões, nos remetendo a algo mais orgânico e, de fato, mais introspectivo, Avril ainda soa muito adolescente em sua interpretação, não mostrando grande evolução vocal em relação a seus primeiros trabalhos, e isso compromete a audição desse novo. Quanto a parte lírica, mesmo na tentativa de mostrar seu crescimento e difícil processo que passou nos últimos anos, sua limitação poética fica evidente e também incomoda. Chega a lembrar algumas músicas antigas de Demi Lovato, especialmente em "Warrior", já que Demi tem um single de mesmo nome e letra extremamente similar. Avril faz um esforço sincero pra soar um pouco mais séria e profunda, mas suas metáforas previsíveis e texto raso não a permitem expressar com maior clareza o que pretendia.

O álbum começa bem, com 4 faixas promissoras. "Birdie" e "Tell Me It's Over" são pontos fortes. Embora essa segunda, que talvez seja a mais surpreendente do disco, tivesse ficado muito melhor mais pro final, e já explico o porquê.

"Dumb Blonde" puxa o álbum para baixo de uma maneira que chega a dar tristeza. O ritmo que até aqui era morno, mas agradável, é quebrado de forma tão brusca que nos deixa boquiabertos, tamanha a falta de noção de quem teve a ideia de colocar uma faixa como essa a essa altura. Não que seja um pecado ter uma faixa mais pop a lá "Girlfriend" num trabalho como esse. Por mais que traia completamente a ideia do álbum, é mercadologicamente compreensível, ainda mais pelo featuring com Nicki Minaj, que com certeza chama a atenção. O que incomoda, mesmo (!), foi a escolha da posição da faixa, um erro tão absurdo e imperdoável que faz todo o resto soar desencaixado e até linear demais.

As faixas seguintes seguem a lógica das primeiras, e ainda que tenha belas melodias em alguns momentos, a sensação de "wtf", infelizmente permanece. Até na nostálgica e bela "Souvenir", que nos remete de forma positiva aos primeiros trabalhos, alguns vícios fazem a música soar datada, como o "ieieie" e a frase "wish you where here".

A música seguinte, "Crush", tem uma levada envolvente, e é aqui que eu acho que "Tell Me It's Over" nos faria esquecer e superar completamente o desastre de "Dumb Blonde", por se tratar de duas faixas que dialogam bem entre si e nos dariam essa sensação de que estamos mesmo ouvindo uma Avril mais madura, o que infelizmente não acontece.

O álbum de 12 faixas passa rápido, pelo motivo errado. É no geral, morno e esquecível, a não ser pela pequena catástrofe supracitada que fico até triste de lembrar. Num mercado tão disputado, e que todos os anos lança nomes cada vez mais jovens e geniais, Avril parece tão deslocada como em toda a segunda metade de sua carreia. A impressão final é que ficou no "quase". Talvez por ansiedade de voltar à ativa, escolhas equivocadas, insegurança ou mesmo falta de um planejamento mais coeso e coerente. "Head Above Water" apenas não convence. Provavelmente fizesse mais sentido se lançado há pelos menos 5 ou 6 anos atrás, ornariam bem com "Give Me What You Like", mas em plenos 2019, vai ser rapidamente esquecido. Uma pena se tratando de uma artista tão talentosa e com tanto potencial.

Tracklist:
01 Head Above Water
02 Birdie
03 I Felt In Love With The Devil
04 Tell Me It's Over
05 Dumb Blonde
06 It Was In Me
07 Souvenir
08 Crush
09 Goddess
10 Bigger Wow
11 Love Me Insane
12 Warrior


Nota: 5

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