[RESENHA] Design Your Universe – Epica (ESPECIAL 10 ANOS)

Design Your Universe – Epica [ESPECIAL 10 ANOS]


Antes de começar:

          Decidi fazer essa resenha em homenagem aos 10 anos de aniverário do álbum “Design You Universe”, lançado em 2009, pela banda holandesa de Metal Sinfônico, Epica.
Tentei escrever essa resenha me lembrando das sensações que tive ao ouvir pela primeira vez, lá em 2009, mesclando com as atuais. Não posso deixar de citar, que creio que esse foi um dos álbuns que mais esperei em toda minha vida, daqueles que a gente faz vigília para cada lançamento de teasers, entrevistas, clipe, etc, então, as expectativas eram bem altas.

          Como de costume, ouvi o álbum uma vez fazendo algumas anotações sobre cada faixa, e a segunda e terceira vez já construindo o texto de maneira mais próxima a como fincaria no final.

         Claro que minhas impressões aqui, são baseadas além da minha experiência com técnica, estética e produção vocal, composição e produção musical (principalmente de música eletrônica), no senso estético que construí ao longo desses 15 anos aos quais me dedico a estudar música. Porém, quando eu digo senso estético, quero que entendam que se trata de um “gosto pessoal” construído através da análise se uma série de referências, portanto, não sou dona da verdade, posso falar apenas e tão somente sob minha ótica, pautada nos critérios que descrevi acima. Apesar disso, tentei usar uma linguagem mais popular, para melhor compreensão do público geral, e para não me alongar explicando termos mais técnicos.




          “Design Your Universe”, é o quarto álbum de estúdio da banda Epica. O álbum foi lançado em outubro de 2009 pela Nuclear Blast e foi novamente produzido pelo alemão Sasha Paeth. Uma das maiores expectativas em relação ao álbum, era a apresentação do novo guitarrista Isaac Delahaye (ex-God Dethoned), anunciado como novo membro no início do mesmo ano.
         Sucessor de “The Divine Conspiracy”, um álbum conceitual de grande sucesso, “Design Your Universe” tem uma sonoridade um pouco mais moderna, e letras que falam tanto de experiências pessoais dos integrantes, quanto de física quântica, assunto muito lido pelo guitarrista, fundador de principal compositor do Epica, Mark Jansen.

          Fomação: Mark Jansen (guitarra rítmica, vocal extremo), Simone Simons (Vocal), Coen Janssen (sintetizador, teclado, piano), Yves Huts (Baixo), Ariën van Weesenbeek (bateria, vozes faladas, gutural), Isaac Delahaye (guitarra solo).

Isaac, Coen, Yves, Simone, Ariën e Mark

Samadhi (Prelude)

          Como já é padrão do Epica, o álbum inicia com uma faixa instrumental com trechos em latim que nem o google tradutor entende. Brincadeiras a parte, Samadhi se diferencia por ser uma faixa um pouco mais direta que as outras intros dos álbuns anteriores, e não fazer aquela “sequência” ligada à faixa seguinte, mas ainda assim, é uma boa introdução.


Resign To Surrender (A New Age Downs, parte IV)

          Curiosamente, o coral do início dessa música nos remete à anterior, mas ao mesmo tempo, fica clara a intenção de mostrar que se tratam de faixas diferentes.
Um riff diferente do que a banda costuma fazer nos chama atenção logo de cara. Isaac Delahaye, novo guitarrista da banda após a saída de Ad, nos é apresentado e se mostra uma aquisição promissora.
          O verso é cantado por Mark, nos mostrando toda a potência e peso de seus vocais extremos, já mostrando a força da faixa. Simone faz sua grande entrada num refrão um pouco mais lento, mas ainda enérgico.
         Aqui temos tudo o que se espera de uma faixa de abertura do Epica, mas com um gostinho de novidade. Não apenas pelos riffs inspirados de Isaac, temos também um quase inédito solo de guitarra, que nos deixa boquiabertos. A sensação é maravilhosa! Logo o Epica que era taxado pela crítica de ser uma banda “mais do mesmo”, nos presenteia com um som muito mais maduro e criativo. Simone, especialmente, se apresenta muito segura. Mesmo os corais, sempre um pouco datados, soam mais naturais e menos pretensiosos. A expectativa para esse novo trabalho se eleva ao longo da faixa. O que pode ser muito perigoso, mas sigamos em frente.


Unleashed

        A abertura no primeiro single do álbum também se dá por um coral, agora de vozes predominantemente femininas, juntamente a um instrumental mais pontual preenchendo as pausas do mesmo. Não impressiona muito no começo.
          Até a vocalista Simone Simons nos presentear com um verso bastante diferente do que a banda costuma fazer. A impressão é que Simone participou um pouco mais da composição dessa faixa, deixando-a bastante melódica, enérgica e melódica ao mesmo tempo. A letra também soa menos pretensiosa e filosófica, mas não perde profundidade em seu significado, apesar da simplicidade do vocabulário. As partes da ponte, mais calmas, dando destaque à vocalista e o coral ainda feminino, dão um pouco mais de complexidade ao single, sem deixar “complicado demais”.
          Apesar de ser característica das linhas vocais do Epica, o último refrão modulado em vocal mais “lírico” são uma boa surpresa. A banda vinha deixando os “líricos”, exagerados e caricatos, cada vez mais de lado, dando mais espaço a técnicas de canto popular, mas aqui, eles se encaixam perfeitamente, dando um tom épico ao single. Com certeza os fãs ficarão empolgados.


Martyr of The Free Word

          Pra quem acompanhou a campanha de lançamento do álbum na época, essa era com certeza uma das mais esperadas. O verso é com certeza um dos melhores já feitos pela banda, tanto pelo instrumental quanto pelas linhas vocais, que Simone interpreta lindamente, mostrando várias cores de sua voz.
         Aqui fica bem evidente a linha um pouco mais pop e menos “tr00” que a banda pretende seguir, o que se mostra uma escolha cada vez mais acertada.
          O coral gregoriano também era bastante esperado pelos teasers, e dão um toque mais “Epica” à faixa, que vinha surpreendendo bastante até então.
        Até que entra Isaac mais uma vez, com um solo arrebatador, conquistando imediatamente a simpatia do fandom. Não há como não gostar no novo membro, que soa tão à vontade, mesmo em seu primeiro trabalho com a banda.


Our Destiny

         A introdução nos anuncia uma faixa um pouco mais tranquila que as anteriores. A linha das cordas também são bastante interessantes e menos tensas que de costume.
Simone começa com voz leve, juntamente aos teclados de Coen. Um slap de baixo entra logo em seguida, deixando a faixa um pouco mais quente.
          A letra de Simone, que fala sobre o término dela com o guitarrista e fundador da banda, Mark Jansen, é simples, mas intensa. Diz o que precisa dizer sem muitos rodeios.
Ela com certeza é uma ótima letrista, e é muito bom vê-la tendo um pouco mais de liberdade.
          As partes mais progressivas e guturais que antecedem os corais não chegam a incomodar, mas soam um pouco desnecessários. Já dá pra ter uma noção de quem foi a ideia.
Um último coral com uma modulação para o refrão final, onde há um contracanto, também são decisões acertadas, além de encerrar a faixa com os teclados do início.


Kingdom of Heaven (A New Age Downs, parte V)


       A primeira faixa épica do álbum e quinta parte da saga “A New Age Dawns” se inicia num tom progressivo e misterioso. A música tem um total de cinco partes, com títulos/capítulos diferentes, e é como se narrasse uma experiência de morte, pós-morte e ressurreição, fazendo diversas referências à física quântica, que Mark já avia sinalizado em entrevistas ser sua “pira” do momento.
        Um riff enérgico prepara a entrada de vocais guturais mesclados com screams, num tom agressivo, como era de se esperar.
Essa é uma faixa típica “Mark Jansen”, onde vemos que ele se diverte mostrando todas as suas influências, muitas de música árabe como mostrado no anterior “The Divine Conspiracy”. O coral do refrão liderado por Simone, embora um pouco previsível, também soa muito bem. Depois, temos partes mais extremas, corais em latim, e todos os caprichos já tão explorados pelo guitarrista e principal compositor da banda.

          Na segunda parte da música, temos Simone cantando uma melodia em “legit” com muita influência árabe, provavelmente escala menor harmônica, e um coral dando base para sua voz aguda, seguido de mais partes instrumentais e mais alguns riffs de guitarra (hora seguindo as cordas da orquestração, hora tendo suas próprias linhas, quando soam mais interessante).
              A terceira parte é marcada por um instrumental poderoso e progressivo, que o Epica sempre trabalhou muito bem desde o álbum de estreia, com corais e sinfonia em contraponto às potentes linhas de guitarra e bateria.
         Em seguida, temos um dedilhado de violão e um instrumental mais calmo com strings ao fundo, que logo encontra uma quebra no tempo quando entra a bateria o que dá tensão ao momento.
Simone volta cantando uma melodia suave e uma letra catártica.


Nothing here will be the same

I'll see the world through different eyes and

I was given clarity

And the wisdom I can't deny

All that we can never see

Until we leave this frail existence

Is just a shadow of reality

Death is not the final instance”

          Um diálogo que dá arrepios precedido por uma forte linha de baixo, também nos chamam a atenção. Mais um solo de guitarra maravilhoso de Isaac deixa a faixa ainda mais emocionante, e nos mostra o quão maravilhosa foi essa contratação.
           Em “KOH” também surpreendem os vários momentos onde o baixo se destaca, de certa forma também inéditos, pois se trata de um instrumento sem muita expressão ao longo da disgrafia da banda. Fica a impressão de ser um dos épicos mais criativos e inspirados do Epica em toda sua carreira.
         A música encerra com melodias já apresentadas em partes anteriores, o que nos faz querer cantar junto, e dão a sensação de final de um ciclo, com começo, meio e fim.


The Price of Freedom (Interlude)

          Interlúdios são quase sempre dispensáveis, apesar de terem um significado dentro do álbum, sendo a faixa que a gente pula. Esse se destaca pela linda e tensa linha de teclas, junto a uma orquestração de cordas um pouco mais grave. Vozes aparentemente de um noticiário ou discursos de líderes políticos ao fundo dão o tom de emergência e nos prepara para a faixa seguinte.


Burn To A Cinder

          Uma introdução com instrumental em stacato, muito presente nos álbuns do Nightwish, mas de certa forma novidade no trabalho do Epica, já nos colocam em estado de atenção.
      Entra então, um dos melhores versos até aqui, também com riffs que lembram a banda finlandesa. É uma faixa até um pouco mais pop que os anteriores, mais ainda forte e cativante.
       Simone novamente quebrando tudo numa letra e interpretação inspiradas, explorando um pouco mais seus graves, ainda que pontualmente.

         Temos também um pré-refrão melódico e dramático na médica certa. A entrada do refrão, destoa positivamente dos outros, mostrando influências de pop dos anos 80 e 90. Grudento e enérgico, nos convidando a cantar justos a plenos pulmões.
Apesar de explorar um pouco mais sua voz, Simone sempre se destaca nas partes mais calmas com sua voz suave e leve. A seguir, mais um solo inspirado, mostrando que Isaac foi uma das melhores, se não a melhor contratação já feita pelo sexteto.
          “Burn To a Cinder”, é uma faixa com muito potencial pra single, e uma das melhores do álbum até aqui. Simone com certeza é minha compositora favorita da banda, e acredito que tenha se tornado a de muitos fãs também.
         A música se encerra nos preparando para a balada que vem a seguir. Mais uma vez Simone mostrando porque é uma das mais importantes vocalistas do gênero, mesmo não tendo uma voz enorme e potente. Seu canto de sereia é capaz de aquecer e capturar o mais duro dos corações.


Tides of Time

             Coen inicia a balada do álbum de maneira majestosa. Simone não fica para trás, nos trazendo uma melodia suave e interpretação tocante.
             O refrão “lírico”, unido a uma letra que fala da fragilidade da vida e das coisas que vão e vem, é de fazer levantar as mãos e chorar. Não precisa de muito para se tornar, sem dúvida, umas das melhores baladas da discografia da banda.
          A ponte enérgica com a entrada da banda e vocais beltados, são de arrepiar! Uma das melhores passagens do álbum, e o maior destaque para os belts são também uma novidade trazida nesse álbum, que felizmente se mantém nos álbuns seguintes.
      Um solo melódico abre caminho para o último refrão, com a banda completa e acompanhamento de um coral. Divino. Nessa faixa, Simone se consolida também como uma das melhores compositoras do gênero, contrariando as más línguas que insistem em rotulá-la apenas como o “rostinho bonito da banda”.


Deconstruct

          Mais uma faixa com linhas vocais extremamente pops e grudentas, aparentemente também com muito potencial para single. Isso até o pré-refrão entre Mark e o já conhecido coral, que deságua num refrão forçado e esquecível ao estilo “beaty and the beast”, onde a música acabou me perdendo. Ainda assim, o verso é ótimo, e a voz de Simone parece escorregar entre as notas de maneira muito orgânica, dinâmica e hipnotizante.
         Felizmente, uma ponte com um coral mais pausado e Simone fazendo um contracanto com uma melodia em legato, nos traz de volta. Sem dúvida seria uma faixa muito mais interessante sem a presença dos guturais de Mark, que soam deslocados e desnecessários.


Semblance of Liberty


          “Semblance of Liberty” talvez seja a faixa mais pesada do álbum, e abre dando ênfase nas guitarras num riff a lá Mark Jansen, rápido e ritmado, com baterias em pedal duplo ao fundo. Aqui Mark mostra bem suas características e influências de Death e Thrash Metal, sendo um pouco mais direto, e deixando a orquestração quase que em terceiro plano.
          No refrão, são os vocais em suaves de Simone e a volta do destaque aos strings que soam desencaixados e quebram de maneira brusca e desagradável o peso e energia alcançados até aqui.
        Mais ao final, temos partes faladas, bastante usadas nesse trabalho, e um dos melhores riffs do álbum, certamente obra do senhor Delahaye. Uma pena ser um momento tão curto, embora memorável. Os corais que entram logo em seguida também são um ponto positivo.
           Nessa última parte do álbum, a banda já começa a mostrar indícios dos erros cometidos no álbum seguinte, (Requiem for The Indifferent, 2012), onde partes ótimas são unidas a outras mornas ou ruins, o que resulta em faixas inconsistentes e desconexas, apesar de bons momentos.


White Waters (feat. Tony Kakko - Sonata Arctica)

         A segunda e última balada do álbum e primeira participação, começa com um belo dedilhado de guitarra, com a voz suave de Simone e um violino ao fundo. Aos poucos, a faixa começa a se mostrar cada vez mais tensa e “existencial”.
         Tony começa a cantar com sua bela voz, numa melodia a princípio cativante, mas que logo se mostra lamuriosa e exagerada. A entrada de Simone também não é muito empolgante, mas o instrumental ainda nos cria uma expectativa de que algo grandioso está por vir.
           Infelizmente, a expectativa que só fica no instrumental não é acompanhada pela interpretação e linhas vocais mornas de ambos os vocalistas, que mostram zero entrosamento.
          Um dos pontos mais baixos do álbum, e prova mais uma vez, que o Epica não é muito bom em escolhas para convidar integrantes de outras bandas. Sem dúvida, a pior faixa do álbum, totalmente esquecível.


Design Your Universe (A New Age Downs, parte VI)

          Mais um belo e misterioso dedilhado de violão, seguidos por cellos suaves, mas potentes e uma orquestra crescente que nos remetem um pouco à “KOH”, alimentam ainda mais a expectativa da faixa título, que sempre fecham os álbuns com maestria.
          Embora a letra seja um pouco repetitiva em sua forma, coisa de Mark Jansen, Simone canta uma bela melodia no verso, e Mark a segue bem num pré-refrão mais pesado. Inevitável não gritar junto:


Take the Chance, Design Your Universe”


          O refrão… ah, o refrão. Um coral em stacato em melodia apocalíptica, nos dá a sensação de realmente estar ouvindo uma faixa título do Epica. Simone belta mais uma vez um “pós-refrão” marcante e grudento, em uma das passagens mais belas e memoráveis da faixa.
            Após mais “berros” de Mark, temos uma melodia que nos remete à faixa intro, Samadhi. Uma das coisas que mais gosto de ouvir em faixas épicas são referências ao próprio álbum ou a trabalhos anteriores da banda, como fazem muito bem os veteranos do Dream Theater, mestres do metal progressivo.
            A faixa de nove minutos e meio parece ter no máximo quatro. Design Your Universe é trágica, catártica, enérgica e grandiosa, como se era de esperar de um “gran-finale”.
Simone e Coen, uma dupla que se mostra infalível e entrosadíssima durante todo o álbum, encerram a faixa – e o álbum- com leveza e urgência, nos deixando reflexivos e com uma sensação de esperança.

Show us now, we have a sense”...



Conclusão

          Em seu quarto álbum, e primeiro com o novo guitarrista, a banda se mostra surpreendentemente muito entrosada e segura. Todos aparentam estar muito seguros do que fazem, e tem um pouco mais de liberdade para experimentar. Cara um tem seu momento de brilhar, e isso traz momentos muito surpreendentes e recheados de inspiração que, de maneira alguma desprezando os álbuns anteriores, ainda não haviam sido vistos de maneira tão expressiva como em "Design Your Universe".
           Aqui, o Epica mostra porquê é uma das maiores bandas do Metal Sinfônico, e sabe explorar elementos de outros gêneros, dentro e fora do metal, sem perder sua identidade.
          Os destaque vão para Simone, que apresenta um amadurecimento muito significante como vocalista e compositora e, claro, para o calouro Isaac Delahaye, que em seu primeiro trabalho com a banda já mostra sua experiência e musicalidade, acrescentando muito ao álbum.
Fico extremamente feliz em ouvi-lo 10 anos depois, e perceber que, muitos desses sentimentos ainda estão aqui, não só pela memória afetiva, mas porque o álbum envelheceu MUITO bem e, ao menos para mim, resistir ao tempo é uma das maiores marcas de uma grande obra de arte. E que venha a turnê de aniversário.

Tracklist:
01. Samadhi (Prelude)
02. Resign to Surrender (A New Age Dawns, Part IV)
03. Unleashed
04. Martyr of the Free Word
05. Our Destiny
06. Kingdom of Heaven (A New Age Dawns, Part V)
07. Price of Freedom (Interlude)
08. Burn to a Cinder
09. Tides of Time
10. Deconstruct
11. Semblance of Liberty
12. White Waters
13. Design Your Universe (A New Age Dawns, Part VI)
Duração: 74:50




Nota: 9

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