[RESENHA] Within Temptation - Resist

Within Temptation - Resist

Antes de começar…
Minha primeira ideia era fazer um react faixa a faixa do álbum, mas só fui ouvi-lo a noite, pouco antes de dormir, então montar todo o equipamento e estar “apresentável” não era uma opção. Assim, decidi fazer, a boa e clássica crítica escrita.
Ouvi a primeira vez fazendo algumas anotações, e pela segunda e terceira vez já construindo o texto de forma mais coesa.
Claro que minhas impressões aqui, são baseadas além da minha experiência com técnica, estética e produção vocal, composição e produção musical (principalmente de música eletrônica), no senso estético que construí ao longo desses 15 anos aos quais me dedico a estudar música. Porém, quando eu digo senso estético, quero que entendam que se trata de um “gosto pessoal” construído através da análise se uma série de referências. Portanto, não sou dona da verdade, posso falar apenas e tão somente sob minha ótica, pautada nos critérios que descrevi acima.

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"Resist" é o sétimo álbum de estúdio da banda Holandesa de Metal Sinfônico, Within Temptation, que é sem dúvida uma das maiores e mais notáveis do segmento. Os últimos dois álbuns da banda (The Urforgiving e Hydra), dividiram um pouco os fãs por darem indícios de um certo “descolamento” do estilo de origem, apontando para uma abordagem um pouco mais “pop”. Apesar dessa “divisão”, os holandeses continuaram a conquistar legiões de fãs pelo mundo. Em 2018, começaram a campanha de divulgação do novo trabalho com um visual e temática futurista e distópico. Essa temática está em voga na música desde meados de 2014, mas no cinema, data de muito antes, com franquias como "Jogos Vorazes" e "Divergente", e a volta do sucesso absoluto de "Star Wars".
O álbum de inéditas foi lançado dia 1 de fevereiro de 2019, em todas as plataformas de streaming, e no primeiro dia, já conseguiu o primeiro lugar no chart mundial do Itunes, inédito para uma banda do gênero.


The Reckoning

Um sintetizador que imita instrumento de sopro que aparentemente nos convoca para uma guerra, abre o álbum e inicia o primeiro single lançado em setembro de 2018. Esse mesmo instrumento se repete na música até o final da mesma. Eu pessoalmente detestei tanto o timbre escolhido quanto a melodia desse synth.
O verso da música é bem curto e esquecível. O destaque aqui vem para o pré-refrão “in blood and tears...”, que poderia facilmente ser o próprio refrão.
O refrão mesmo da música, apesar de bem melódico como de costume, aparentemente ficou muito agudo e Sharon apresenta um pouco de dificuldade de reproduzir ao vivo. Para um maior impacto, ela precisaria de um ajuste vocal um pouco mais firme e com “mais espaço”. A participação de Jacob Shaddix (Papa Roach), melhora, e mostra com mais clareza o que a música pretendia ser. Ele inclusive soa muito mais a vontade na música do que a própria Sharon, dadas suas raízes. Fica claro, logo de cara, onde o Within Temptation queria chegar, mas soa apenas genérico, talvez  falta de vivência e domínio do estilo “metal moderno americano” pretendido.


Endless War

Aqui o uso dos sintetizadores é um pouco mais inteligente, e vemos bastante influência do “indie pop” de My Indigo logo na introdução. Quando Sharon começa a cantar – a música se inicia com a primeira parte do refrão- , qualquer dúvida sobre a banda mirar no mercado americano se utilizando de influências desse nicho, são completamente sanadas.
A linha vocal meio “hip-hopada”, o sintetizador ultra grave, e bateria eletrônica com o hi-hat em semicolcheia, são as provas cabais disso, mas também temos elementos chave da banda, como a melodia cantada num ajuste mais lírico, e alguns corais no refrão, que dão o tom épico característico do metal sinfônico e utilizado com tanta identidade pela banda. Toda a parte eletrônica em Endless War é infinitamente mais interessante do que na anterior.
Embora mais uma vez também fique evidente a falta de propriedade que banda tem em usar esses novos elementos, foi uma ótima surpresa. Talvez fosse ainda melhor se a banda se preocupasse um pouco menos em soar “pesada”, e deixasse essa onda pop um pouco mais escancarada.
O refrão aqui cumpre seu papel de ser o ápice de música. É grudento e enérgico na medida certa. Com certeza será um dos destaques ao vivo.



Raise Your Banner

A segunda participação da banda, do vocalista da renomada “In flames”, Anders Friden, abre o segundo single lançado. “BLOOD FOR FREEDOM!!!”, é o – literalmente – grito de guerra entoado pelo convidado. O verso da música é marcado por uma percussão que lembra muito bandas como Imagine Dragons e 30 Seconds To Mars.
Vocais sussurrados e falados, e finalmente um solo de guitarra, são as maiores novidades até aqui. Aquela voz suave e aguda de Sharon, tão familiar de álbuns como Mother Earth e The Silent Force, é ouvida já no final da música, e com certeza, tratá boas sensações aos fãs mais antigos da banda.


Supernova

Em Supernova, a banda se utiliza de um recurso muito presente nas bandas americanas, que é a repetição de frases de efeito. “I’m waiting for” e “Supernova” são a base da letra da música, e se repetem do começo ao fim. O andamento da música também soa repetitivo – é arrastado e melodramático. Em termos de guitarra e bateria, é tudo muito parecido com o já apresentado até aqui. Há alguns elementos sinfônicos bem utilizados na segunda parte, mas no geral, não é uma música que chama atenção.
O sintetizador que faz a melodia principal da música também é muito interessante, mas infelizmente, deixa a guitarra com a função apenas de preencher e dar peso.
Com certeza é uma música que soará bem num remix com pegada mais EDM.


Holy Ground

Em Holy Ground, temos uma introdução muito familiar e andamento também arrastado. No verso, Sharon surpreende ao cantar com sotaque bem americano, usando expressões como “told ya” e “hate ya”. Agradou a muitos fãs, mas pra mim não colou. Falta um pouco mais de propriedade e domínio desses elementos que eles se propõem a usar.
A percussão vai na mesma linha das bandas indicadas em Raise Yor Banner, e ficam mais evidentes as intenções de se aproximar de um clima de banda de arena, com o clássico “hey hey”, que com certeza, ficará a cargo do público nos shows.
Infelizmente entramos em alerta vermelho. Ainda na metade do álbum, as músicas já começam a soar muito similares, com estruturas e uso de recursos muito similares, o que acaba a deixar a audição um pouco cansativa pra quem espera algo novo a seguir.


In Vain

Mais uma ótima surpresa, para o meu alívio! Um sintetizador mais grave, com timbre típico do indie pop e um dedilhado de guitarra abrem a faixa, que já se diferencia e se mostra promissora. As guitarras são pouco utilizadas de maneira mais melódica nesse álbum, então é muito bom ouvir isso a essa altura.
Temos também uma linha vocal e ambiência que lembra muito “My Indigo”. Essas melodias mais dramáticas se encaixam perfeitamente no timbre e passeios por drives leves como o Creacky Voice, que Sharon usa tanto. É com certeza a região onde a voz dela soa melhor.
O refrão aqui é arrebatador! É isso o que eu estava esperando. Uma melodia marcante, dramática e bombástica que ascende e descende, e fazem um match perfeito com toda a parte instrumental.
Assim como em Endless War, em In Vain, os holandeses conseguem uma harmonia entre os elementos eletrônicos e americanizados, e a identidade da banda, que beira a perfeição.


Fireflight

A música começa também fazendo um forte apelo ao Indie Pop de My Indigo. Aqui temos a terceira e última participação do álbum, de Jasper Steverlinck. A voz leve e suave de Sharon aparece de novo e toma completamente o protagonismo da música. Tem uma melodia envolvente, numa dinâmica muito interessante com o convidado.
Infelizmente, o refrão que diz “oi, somos uma banda de metal e ainda temos guitarrista e baterista”, dá uma quebrada estranha no clima, tentando dar peso a um momento que pedia leveza, pelo menos por enquanto. Talvez se o “fator banda” aparecesse mais para o final, teria surtido um melhor efeito, e soado mais agradável. De qualquer forma, temos novamente um refrão previsível e os mesmos elementos das outras faixas sendo usados da mesma forma.

Uma guitarra meio “country” aparece no final e fica a um fio de ganhar meu coração. Poderia ter sido um dos pontos mais altos do álbum, mas a necessidade de lembrar o público de que Within Temptation ainda é uma banda de metal, acaba estragando a experiência.


Mad World

A abertura dessa faixa também não soa original, mas por motivos diferentes das outras. Lembra muito o que eles fizeram nos The Urforgiving e Hydra, então a sensação é mais nostálgica. É uma música que já sinaliza o final de álbum, e poderia facilmente ser última. Ao chegar no refrão, vem aquela sensação estranha de “já ouvi isso antes”. Assim como nas anteriores, muitas coisas soam previsíveis, mas ainda assim, é uma faixa um pouco mais enérgica, como de costume nos álbuns anteriores, e isso é um ponto positivo.


Mercy Mirror

Uma bela introdução de teclas nos prende a atenção logo de cara, o que infelizmente não se mantém ao longo da faixa. Não tenho outros comentários além de que também é muito parecida com as outras.


Trophy Hunter

Abertura muito surpreendente com um riff de guitarra inédito no álbum. A linha vocal do verso e pré-refrão de remeteu muito aos britânicos no Muse. Eu facilmente posso imaginar Matt Bellamy cantando a mesma coisa, num arranjo um pouco diferente.
Fechando o álbum, Trophy Hunter também se aproxima um pouco mais dos trabalhos anteriores, principalmente do antecessor, Hydra, e algo ali no final me remete ao The Heart Of Everything. Para nossa alegria, temos guitarras um pouco mais presentes e que trabalham bem ao lado dos sintetizadores, não sendo substituídos por eles. As linhas de bateria ainda soam pouco criativas, mas isso não chega a incomodar. Como as duas anteriores já sinalizavam um final para o álbum, essa soa um pouco menos épica, apesar dos corais, mas ainda assim, é uma ótima forma de fechar esse novo trabalho.


Conclusão

Após 5 anos de espera, confesso que esperava um trabalho um pouco mais criativo e inspirado. “Resist” tem bons e ótimos momentos, mas a sensação que predomina é se ser algo plastificado e genérico, feito para tentar uma expansão maior no mercado americano. 
Por experiência própria, sei como é difícil trabalhar música eletrônica juntamente com uma banda de rock sem acabar perdendo pra um lado ou soar "desencaixado". Não a toa, a maioria das bandas de metal que se propõem a isso, quase sempre acabam priorizando o mundo dos sintetizadores e dando menos espaço para a banda.
Não duvido que eles consigam bons números com o lançamento, o que já tem acontecido, mas creio que um próximo álbum possa ser mais acertado e ousado criativamente. 
Nem de longe é um álbum ruim, embora soe um pouco cansativo, mais rápido do que se gostaria. Porém, também não é um álbum que mostra o porquê de o Within Temptation ser o que é, e está um pouco aquém da excelência e qualidade mostrada pela banda ao longo de toda sua discografia.

Nota: 6,5

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